ARTIGOS



Deus é jovem

Por Dom Adelar Baruffi
Bispo da Diocese de Cruz Alta

Deus é jovem. Esta afirmação pode parecer estranha ou, ao menos, não usual. Mas exatamente é este o título do recente livro do Papa Francisco, lançado no dia 20 de março último, fruto de conversas com o jornalista italiano Thomas Leoncini. A abordagem do tema da realidade juvenil é justificada pelo fato que estamos vivendo o percurso sinodal, quando a Igreja se prepara para a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, que será realizada no mês de outubro próximo. Desde janeiro de 2017 muitas iniciativas estão sendo realizadas para preparar este importante evento eclesial. Primeiro, todas as dioceses do mundo foram convidadas a responder a um questionário sobre a realidade juvenil. Depois, os próprios jovens, católicos ou não, tiveram canal aberto para enviar sugestões e observações sobre tudo o que diz respeito à sua vida. Recentemente, aconteceram dois encontros de aprofundamento da temática, em Roma. O último, nos dias 19 a 24 de março, reuniu 300 jovens do mundo todo, visto que o Papa quis ouvir os próprios jovens, que foram encorajados a falarem com franqueza.
O próprio Santo Padre explica o sentido da expressão “Deus é jovem”. “No livro do Apocalipse (21,5), há esta frase: ‘Aquele que está sentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas’. Portanto, Deus é Aquele que sempre renova, porque Ele é sempre novo: Deus é jovem! Deus é o Eterno que não tem tempo, mas é capaz de renovar, rejuvenescer-se continuamente e rejuvenescer tudo. As características mais peculiares dos jovens também são Suas. Ele é jovem porque ‘faz todas as coisas novas’ e ama a novidade; porque se encanta e ama o êxtase; porque sabe sonhar e deseja os nossos sonhos; porque é forte e entusiasmado; porque constrói relacionamentos e nos pede para fazer o mesmo, é social” (Deus é jovem, p. 67). 
Nesta lógica, o Santo Padre compreende a própria Igreja sempre jovem, renovada, atualizada. “O coração da Igreja é jovem precisamente porque o Evangelho é como uma linfa vital que a regenera continuamente.” (Francisco, 19 de março de 2018). Voltar sempre a Jesus Cristo e ao Evangelho é garantia da perene jovialidade de nossa fé cristã. A Igreja propõe aos jovens o encontro com Jesus Cristo. Neste encontro, percebe que suas buscas, suas perguntas, esperanças e projetos encontram eco na pessoa e no ensinamento de Cristo. Então, ao encontrar a Cristo, encontra-se a si mesmo e abre a vida para novos e promissores horizontes, um projeto de vida que ajude a viver alegria de passar pelo mundo fazendo o bem. O próprio Jesus mostra aos jovens um “Pai que sempre olha para eles com um olhar benevolente e misericordioso, um Pai que não compete com eles” (p. 124).
O livro aborda com realismo os desafios que a juventude encontra hoje: o diálogo entre jovens e idosos; os medos; a falta de esperança e perspectiva; a incapacidade de sentir culpa; as drogas; o suicídio; a cultura do descartável; a questão climática e o descarte dos mais frágeis; a violência e as armas; a supervalorização dos animais de estimação; a corrupção; a rigidez mental e dificuldade de diálogo. As palavras são sempre de incentivo, convidando os jovens a viverem a alegria e a coragem de sonhar, de ousar. “Vejo um rapaz ou uma garota que procura seu próprio caminho, que deseja voar com seus pés, que olha para o mundo e contempla o horizonte com os olhos cheios de esperança, repletos de futuro e até de ilusões” (p. 20), diz o Papa ao descrever como vê um jovem. Propõe que jovens e idosos dialoguem, pois nossa sociedade tende a descartar a ambos.

S.O.S Adolescer: Implicações e riscos na caminhada de tornar-se adulto
- Uma abordagem para cuidadores –

A adolescência é um fenômeno biológico, psicológico e social marcado por significativas mudanças e transformações, muitas vezes, erroneamente interpretada e estereotipada como rebeldia, “aborrecência”, etc. Trata-se de uma travessia que demanda luz e cuidado.  
Cuidar na adolescência implica conhecer o que se passa dentro e fora daquele que é cuidado, ou seja, envolve uma escuta e análise atentas às necessidades do adolescente, bem como, da compreensão de sua realidade no seu tempo, no tempo em que o jovem está inserido. O cuidado requer respeito e respeito parte de três verbos essenciais: escutar, conhecer e compreender. Não existe relação de cuidado se não houver empatia.
Além disso, o grande desafio do cuidar é equilibrar os diferentes tempos do desenvolvimento histórico, por exemplo: Como era ser adolescente em 1970, 1980,1990 e em 2018? Os cuidadores precisam compreender que o mundo adolescente mudou e, portanto, todo o conhecimento adquirido pelo adulto, através de suas próprias experiências na juventude, tem pouca validade se não forem escutados genuinamente a partir da vivência atual do adolescente. Daí a perspectiva relacionada  a dificuldade que podem ter os jovens, quando se sentem incompreendidos, e dos adultos na experiência de impotência em ampará-los. Logo, aspectos acerca do adolescer devem ser iluminados afim de facilitar aos cuidadores o suporte necessário nesta travessia.

1-        O ENCANTO DO ADOLESCER
A adolescência é uma fase encantadora, repleta de descobertas que fascinam. O coração que bate acelerado no primeiro beijo, as mãos que suam diante da presença do primeiro amor, as festas com os amigos. Tudo é novo e intenso e, ao mesmo tempo, tudo é rapidamente mutável. As transformações experienciadas pelo adolescente podem ser avaliadas como banais, mas são mudanças importantes, por vezes difíceis de serem vivenciadas como:  alterações corporais e a “bomba hormonal” do crescimento biológico, a “nova” relação com os pais, integrar-se nos grupos, entre outras. Por este motivo é importante que este período seja acompanhado e compreendido pelos cuidadores com tolerância e flexibilidade. O medo no cuidador pode fragmentar o espaço de acompanhamento pelo uso de defesas excessivamente rígidas do adulto.
2-      DISCIPLINA
“Desdobrando as dobras”...

O adolescente precisa adquirir a capacidade de avaliar os riscos das próprias ações e isso requer aventurar-se em um terreno desconhecido , transformando-se em alguém capaz de decidir seus próximos passos e assumir as próprias escolhas. Para isso, naturalmente explora inúmeras alternativas, por vezes sugeridas  por outros (pais, amigos, meio social, mídias, etc). A disciplina, neste contexto, precisa vir ao encontro do bem estar e da qualidade de vida. Disciplina imposta não é disciplina, é castigo.
Se o sentido da disciplina tornar-se distorcido, jovens e cuidadores devem abertamente conversar sobre isso. Pode-se iniciar o diálogo com perguntas simples: “O que é disciplina para você? Qual o sentido dela em sua vida?”
Se a disciplina não é absorvida como castigo, pode tornar-se no sentido exato do termo, uma conduta que organiza a vida, onde o cotidiano torna-se mais leve, oferecendo ao adolescente a saudável e satisfatória sensação de que está dando conta daquilo de que necessita dia a dia. Assim, uma disciplina que vise descongestionar sua rotina, abrindo espaço também ao si mesmo com alegrias, ampliando recursos e habilidades, sem culpas ou sensações de endividamento, será sempre um fator facilitador. 

3-        MEDO E PRUDÊNCIA
A adolescência é uma fase cercada de medos, inseguranças e incertezas. O medo também pode estar a serviço de proteger a vida. Medos de modo geral servem para que haja prudência: prudência para parar e avaliar riscos, prudência para examinar com um cuidado maior o que se passa no momento, prudência para refletir se algo é permanente ou momentâneo, etc.
O adolescer envolve experimentações e existem medos que protegem e outros que escravizam e empobrecem. Os cuidadores precisam estar atentos às incertezas, auxiliando o jovem a refletir sobre as situações cotidianas. O diálogo pode iniciar com uma reflexão sobre as diferenças entre medos que paralisam e medos que protegem, tanto por parte de quem cuida e de quem é cuidado.

4-        O QUE LEVARIA AO SUICÍDIO: REFLEXÕES ACERCA DO PRIMEIRO AMOR E BULLYING
A adolescência, período de formação da identidade, é o momento no qual os jovens questionam de forma arraigada o que os sustenta e atribui sentido a vida. Momento deliciado, portanto, endereço de toda a escolta possível. O termo escolta aqui revela seriedade, mas também uma espécie de acompanhamento à distância, algo que fornece aos guardiões o sentido do seu “trabalho” no contraponto às excessivas proibições.  
Experiências como o primeiro amor ou situações relacionadas ao bullying podem se tornar agravantes se forem tratadas ou entendidas com descaso, indiferença ou desprezo e quando a dor não é cuidada, o risco de depressão e ideações suicidas torna-se maior.
 A linguagem do encontro, é aquela que acolhe o sofrimento, que valoriza o que é vivenciado e oportuniza colocar em palavras, ventilando uma reflexão acerca da diferença entre um momento ruim, um dia ruim e uma vida ruim, reflexões sobre expectativas e frustrações, sobre o que é seu e o que é de outros, sem pressão, diluindo angustias.
É importante que o adolescente possa colocar o que lhe é valoroso em local seguro para que assim torne-se possível pensar e escolher um destino protetivo ao que vive. Daí a importância de oferecer calma e cautela no diálogo. Em um momento de sofrimento intenso, no qual a vida parece não ter sentido, se torna fundamental o acesso a uma rede de proteção de cuidadores íntegros e hábeis em sustentar sua própria ansiedade e preocupação, afim de alcançar o adolescente no seu tempo para compreender o que vive.

5-       ESPECIAL OU DIFERENTE
Neste período da vida existe a dicotomia entre ser especial ou diferente.
Na infância não há problemas em ser diferente, já na adolescência ser diferente é o problema. Por isso os adolescentes procuram pertencer a um grupo, mesmo que isso lhe custe abrir mão de seus valores para sentir-se igual aos outros. E, então, ocorre o dilema: “Se eu faço, me descaracterizo. Se não faço, posso perder o grupo que também, nesse exercício de pertencer, me ajuda a entender quem eu sou.” O papel do cuidador aqui é auxiliar o jovem a descobrir sua própria identidade, sem bater inicialmente de frente com sua tentativa de pertencer ao social. Com o tempo o adolescente mesmo entenderá que a verdadeira aceitação pressupõe administrar bem as diferenças enquanto assumi quem se é.

6 -     PAIS: RETAGUARDA OU CONTROLE
            Na adolescência, a proteção dos pais e cuidadores é fundamental e deve funcionar como uma retaguarda para que os jovens se sintam seguros e tenham com quem contar.
    Pais que sejam hábeis em dizer não, são mais eficientes quando capazes de acompanhar as evoluções no processo de assimilição das frustrações que também competem aos jovens. Ou seja, a questão não está apenas nos “sins” ou nos “nãos” que dizem os cuidadores, mas em compreender claramente o sentido do que se vive. Cuidadores distantes e distraídos geram revolta nos jovens. Quando o adolescente demonstra revolta é importante ficar atento ao distanciamento que pode estar existindo no relacionamento, pois quanto maior é a distância, também maior será a velocidade com que o adolescente investirá para chegar ao ponto que deseja tocar, mobilizar no adulto, e isso aumentará o risco de colisões. Quanta força é preciso fazer para mover uma grande montanha? Grandes discussões são como colisões, podem causar avalanches, ou desmoronamentos desnecessários. E, sim, retaguarda requer controle, mas os cuidadores precisam avaliar a medida desse controle, pois quando se fala em proteção deve-se levar em consideração o grau de intensidade, uma vez que, proteção em excesso também vulnerabiliza e desampara.

7-      FÉ: PROTEÇÃO E AMPARO
            Quando parece que tudo mais falta, existe uma força companheira que revela que alguém, em algum lugar, está cuidando de mim. Esta força é a Fé, que é fonte de energia, sustentação, proteção, sentido e amparo. Alguma forma de Fé é presente em nossa experiência de viver de modo consciente ou não, percebê-la proporciona um relacionamento seguro, não vivenciado concretamente, mas sentido, dialogado, gerando pertencimento e até espaço para expressão de revoltas. Assim compondo uma relação facilitadora para o enfrentamento das adversidades que reforça continuamente a certeza de que não se está só.
            Do mesmo modo, na travessia do adolescer, a fé também pode ser questionada. A dúvida aqui tem sentido de movimento, é um “talvez” à serviço da liberdade de crer por amor. A melhor maneira de iniciar um diálogo íntimo, afetivo e vincular com alguém, não é pelas certezas, mas pela partilha das incertezas que vivemos. É assim que o Amor nos escuta, ampara, acompanha e acalma. Esse é o fenômeno que promove a fé: a confiança de sermos amados independentemente das nossas limitações. A experiência máxima de sermos cuidados em qualquer período de nossa existência com justa dignidade.


NOS – Núcleo de Orientações frente à circunstâncias que envolvem o Suicídio.
ANA REIS, MANOELA MICHELLI e VANESSA OSMARIN.


Artigo: Apresentação do Senhor

APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS NO TEMPLO Lc 2,22-40

Pe. Laércio Rodrigues dos Santos, SAC

Quarenta dias, após o Natal do Senhor, a Igreja revive o mistério da Apresentação de Jesus no Templo. Trata-se do dia em que Jesus foi apresentado ao Templo, por Maria e José, como mandava a lei judaica.
Conforme nos relata o Evangelista São Lucas, Jesus entra pela primeira vez no templo para ser apresentado a Deus. (Lc 2,22-40). Neste texto, podemos destacar dois aspectos importantes para nós, dentre vários que há neste belo texto, mas por hora, ficamos com estes dois:
Primeiro que Maria e José, com o filho Jesus, vão ao templo de Jerusalém para cumprir a dupla prescrição da lei mosaica que é a apresentação do menino e a purificação da mãe aos 40 dias depois do parto. Este episódio tem um ensinamento muito importante para nós e nossas famílias, pois, os pais, geralmente, se preocupam em proporcionar educação, instrução, trabalho e boa posição social para os seus filhos, mas isso não é suficiente. Devem consagrar seus filhos ao Senhor desde o inicio de suas vidas e educá-los para uma vida cristã fiel e coerente com tudo àquilo que está escrito no evangelho. Educar os filhos na fé é muito mais que ensinar práticas religiosas. Assim sendo, a vida dos pais é o melhor método de ensinar catequese aos filhos, pois, se os pais rezam em casa, os filhos aprendem a rezar com eles; se os pais leem a Palavra de Deus, os filhos aprendem a procurar a luz de sua vida na Sagrada Escritura; se os pais participam fielmente na comunidade cristã, os filhos seguem-nos e tornam-se cristãos empenhados; se os pais praticam o amor, o perdão, a generosidade para com os irmãos, os filhos imitam. Portanto, as crianças aprendem muito mais com os olhos do que com os ouvidos. É assim que os pais cristãos da atualidade são chamados a “consagrar” seus filhos ao Senhor.
Segundo, que após a apresentação do menino Jesus no templo, a Família voltou a Nazaré, “e o menino crescia em idade, sabedoria e graça...diante de Deus e dos homens”. Aqui percebemos que a Família de Nazaré é um verdadeiro modelo para todas as famílias, onde os filhos encontram um apoio para realmente crescer, em idade, em sabedoria, em graça, diante de Deus e dos homens...E assim ser aquela família que Deus quer...
Para finalizar esta breve reflexão sobre a Apresentação do Menino Jesus no Templo, salientamos também que na solenidade do dia de hoje, a Igreja celebra o Dia Mundial da Vida Consagrada, ou seja, celebramos o mistério da consagração: consagração de Cristo, consagração de Maria e consagração de todos aqueles que se põem no seguimento de Jesus por amor do Reino. Que todos os consagrados e consagradas possam renovar a vossa entrega nas mãos de Deus e a fazer da própria existência um dom de amor, um testemunho comprometido da realidade do Reino, ao serviço do projeto salvador de Deus para os homens e para o mundo. Assim seja!

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